segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Ação estatal e desenvolvimento capitalista no Brasil: desmistificando dicotomias

Desde meados dos anos 1970, com a reorganização produtiva do capitalismo global, que, dentre outras coisas, superou o fordismo como método predominante de organização da produção fabril, tornou-se bastante comum atribuir aos Estados nacionais a maior parte da responsabilidade pelos problemas sócio-econômicos pelos quais os países passavam, ou vieram a passar. Magistralmente cristalizada na afirmação atribuída ao presidente dos EUA Ronald Reagan de que o “Estado é o problema, não a solução”, a fórmula do Estado mínimo, esgrimida desde há muito pelos economistas neoclássicos, alcançou, desde então, o status de dogma contemporâneo. Posta em prática com intensidades bastante distintas nos diferentes países do globo, foi particularmente influente na América Latina, região que foi palco de uma das primeiras experiências de gestão econômica embasada quase que totalmente nesses pressupostos – atualmente conhecidos sob o rótulo de neoliberais – no Chile do ditador Augusto Pinochet (1973-1990).

A despeito de seu recente boom de popularidade, a idéia de que Estado e sociedade civil constituem pólos absolutamente opostos, no entanto, possui uma longa genealogia no pensamento social e filosófico ocidental. Thomas Hobbes, por exemplo, pode ser apontado como um dos principais propulsores dessa matriz de pensamento – que, em termos mais rigidamente teóricos, é qualificada como “jusnaturalista” – na medida em que, ainda no século XVII, enxergava a criação de um Estado forte, alheio às disputas sociais e dotado de uma racionalidade particular (a “razão de Estado”) como única saída para o impasse (leia-se guerra civil) causado pelas divergências religiosas entre católicos e protestantes ingleses, e europeus em geral. Não é, entretanto, o objetivo desse texto reconstituir toda essa linhagem jusnaturalista e, feita esta referência genérica a suas origens, partamos para um comentário mais amplo acerca de sua caracterização.

A crítica central que, a meu ver, deve ser feita a esta tradição de pensamento é a de reificação do Estado. Explico-me: apesar de ser um elemento constante na imensa maioria das sociedades, povos, civilizações, etc conhecidos, tanto no presente, quanto no passado, o Estado assumiu, em cada uma delas, as mais diversas formas. Ora, acredito que pouquíssimos discordariam da afirmação de que o Estado da Europa ocidental na Idade Média difere imensamente daquele erigido pelos fascistas italianos sob o comando de Benito Mussolini, por exemplo. Para além de seu reconhecimento, essas diferenças devem, caso desejemos construir algum tipo de conhecimento acerca das sociedades humanas, ser explicadas. E, para que esta hipotética explicação fizesse algum sentido, parecer-me-ia absolutamente crucial que evocássemos, ao menos, alguns dos aspectos estruturantes das sociedades em questão (medieval e fascista); do contrário, correríamos o risco de conceber a história como mera seqüência de acasos, em que elementos tão influentes como o Estado fundar-se-iam em um princípio de aleatoriedade, tese esta que poderia ser aceita, mas que inviabilizaria qualquer pretensão de compreensão da realidade social de qualquer momento histórico, uma vez que o aleatório é, por definição, indeterminado e, portanto, incompreensível.

Não sendo o Estado um ente gerado ao acaso, a compreensão das formas específicas que assumiu ao longo da História deve partir de sua conexão com as sociedades que engendraram cada uma dessas formas, o que é o mesmo que dizer, grosseiramente, que o Estado é sempre “produto” da sociedade em que surge. Logo, alguns dos agentes coletivos que compõem esta sociedade podem ser identificados como principais responsáveis pela construção e manutenção do aparato estatal, seja ele feudal, fascista ou liberal. Aqui, um rápido esclarecimento talvez seja necessário: apesar do que a ideologia liberal afirma há séculos acerca da igualdade entre os homens – igualdade esta que se constrói a partir da categoria jurídica de “cidadão” –, parto de um pressuposto diametralmente oposto, na medida em que a sociedade ocidental, desde pelo menos a Antigüidade, passando pelas Idades Média e Moderna, até o capitalismo contemporâneo, se estrutura sobre classes sociais, que dividem todos os indivíduos dessa sociedade em duas classes sociais fundamentais, a dos produtores e a dos apropriadores, ainda que estes dois grupos tenham importantes nuances e diferenciações internas. Ao falar de agentes coletivos, me refiro, então, ao conceito de classe.

Ao dizer que determinada classe social detém o controle do Estado, não pretendo afirmar que todos os indivíduos diretamente envolvidos com sua administração tenham consciência deste fato, e tampouco tenho a intenção de negar as diversas contradições que atravessam este Estado – assim como às mais diversas instituições sociais. Em termos teóricos, portanto, minha argumentação vai em sentido oposto ao do pensamento liberal, uma vez que pretendo reinserir o Estado e sua dinâmica própria no bojo da sociedade que o gerou, e não concebo-o como um ente externo, e potencialmente destrutivo, em relação a esta sociedade. Com isso, chego à minha proposição fundamental nesse texto, a de que a idéia de que o Estado pode erguer-se acima dos interesses dos indivíduos, ou das classes – como queriam Hobbes, Locke e os demais pensadores vinculados à tradição jusnaturalista, como o são os neoliberais – para funcionar como um árbitro das disputas é absurda. A não ser em situações muito especiais em que pode haver certo equilíbrio social, as quais não vou abordar neste texto, o Estado tende a funcionar como elemento de construção e fortalecimento do poder de determinada classe social.

Para ilustrar o que tentei demonstrar teoricamente, acredito que poucos países fornecem exemplos tão ricos em suas histórias como o Brasil. Se pensarmos, por exemplo, na etapa da industrialização que o país atravessou no período 1930-55, veremos de que maneira o Estado atuou fortemente no sentido de garantir a ascensão político-econômica da burguesia industrial urbana.

Até o início da década de 1930, o Brasil possuía uma clara e definida inserção na divisão internacional do trabalho: grosso modo, fornecia produtos primários a baixos preços para os países do centro do sistema capitalista e comprava produtos industrializados destes. Com o crash da bolsa de Nova Iorque em 1929, e a subseqüente crise econômica mundial, a posição ocupada pelo Brasil na DIT passou a ser cada vez mais fundamental, uma vez que as combalidas economias do centro do sistema necessitavam que o preço das matérias-primas e demais produtos primários se mantivessem em níveis baixos, a fim de viabilizar a continuidade de sua produção industrial. Ao contrário do desejado pelos países mais poderosos do bloco capitalista, o que o Brasil fez então? Aproveitou-se da fraqueza destes e impulsionou seu próprio processo de industrialização, diminuindo a importância relativa dos produtos primários em sua economia.

Certamente a correta compreensão dessa etapa da industrialização brasileira remete-nos a diversos fatores, como a crise do Liberalismo clássico, a eclosão da Segunda Guerra Mundial, entre muitos outros. Não obstante isto, não enxergar a importância do Estado nesse processo é deixar passar o óbvio, tantas foram as tarefas por ele desempenhadas nas duas décadas e meia seguintes: repressão à oposição interna (comunista, fundamentalmente, mas, também de outros matizes ideológicos), produção direta em importantes ramos da indústria (como a siderurgia, por exemplo), controle da política cambial para financiar a industrialização através dos recursos oriundos da agricultura, controle do preço da força de trabalho através do estabelecimento do salário mínimo em níveis de mera subsistência, mediação dos conflitos com os trabalhadores organizados, etc.

Se avançarmos em direção a outros momentos da história brasileira, veremos como se multiplicam os exemplos da ação estatal impulsionando o desenvolvimento capitalista brasileiro em perfeita sintonia com este, e não o entravando, como afirmam os liberais de diversas espécies. Na reestruturação do modelo iniciado em 1930 a que acabamos de nos referir, cujo marco é a presidência de Juscelino Kubitschek (1955-1961), vemos novamente a importância do Estado, reconhecida pela própria ideologia da época na fórmula do tripé: capital estatal – capital estrangeiro – capital privado nacional.

Outro interessante exemplo pode ser encontrado na política econômica da ditadura civil-militar (1964-1985). Com efeito, nessa área uma de suas mais duradouras realizações foi a extinção da estabilidade (um direito trabalhista fundamental) e sua substituição pelo FGTS. Nas últimas décadas, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço converteu-se numa das mais eficazes formas de financiamento do capitalismo nacional justamente por aqueles que dele não se beneficiam, os trabalhadores. Somente neste ano de 2008, o governo federal liberou parcelas do FGTS para capitalização da Petrobras (para a qual foram disponibilizados cerca de 75 bilhões de reais do Fundo) e financiamento do setor de construção civil (cerca de três bilhões de reais investidos). Além de tratar-se de dinheiro dos trabalhadores sendo controlado pelo Estado e empregado para o financiamento do capital nacional, o exemplo do FGTS nos permite observar com grande clareza a diferença entre o tratamento que o Estado dispensa aos trabalhadores e aos capitalistas. Com efeito, não existe nenhuma compulsão para que as empresas entreguem parte de seus rendimentos ao Estado para que este guarde-os para o caso de falência, ao passo que os trabalhadores vêem parte de seus vencimentos serem direcionados ao Estado e só podem retirá-la quando desempregados.

Também os mecanismos de renúncia fiscal para financiamento cultural – largamente empregados pelos governos federais desde o fim da ditadura – nos permitam algumas observações profícuas, os quais beneficiam duplamente as empresas investidoras: escolhem em que “produtos culturais” querem investir (ou seja, aos quais querem associar sua imagem) seus impostos, além de aliviarem o orçamento da área de marketing, liberando recursos para serem reinvestidos na produção ou somados aos lucros. Trata-se, portanto, de um caso em que o Estado abre mão da prerrogativa de empregar os recursos a que tem direito, criando uma clara assimetria, na medida em que nem todos podemos dispor de nossos impostos dessa forma, apenas as empresas.

Um último caso que quero mencionar é o das políticas assistencialistas levadas a cabo pelo governo Lula, em especial o bolsa família. Este exemplo me parece particularmente interessante por estar no centro dos debates em torno da administração federal petista, bem como por todas as contradições que evidencia. Ao pagar bolsas e auxílios, o Estado toma para si, ao menos em parte, a responsabilidade de garantir a reprodução da força de trabalho, o que tem, ao menos, três óbvias conseqüências: primeiro, no plano ideológico conecta o trabalhador ao Estado, fazendo-o dele dependente e, portanto, contribuindo para diminuir a tensão das relações capital-trabalho; segundo, socializa despesas que deveriam ficar a cargo dos capitalistas individuais: ora, sendo os auxílios pagos pelo Estado, eles provém de impostos pagos por toda a sociedade – inclusive, de outros trabalhadores –, e não apenas do bolso dos capitalistas; terceiro, em ampla conexão com o ponto anterior, desobrigam os empregadores de arcarem com a totalidade dos custos de reprodução da força de trabalho, podendo pagar salários abaixo do mínimo para a subsistência (o que é reconhecido pelo próprio governo, que só aceita como beneficiários famílias com renda mensal per capita de, no máximo, R$ 120,00); quarto, e por último, contribui para manter num patamar significativo o montante de trabalhadores no exército industrial de reserva, possibilitando o rebaixamento continuado dos salários.

Mas, como nada é isento de contradições, esses mesmos auxílios têm o mérito de direcionar para as parcelas mais necessitadas recursos provenientes de toda a sociedade. Enfim, ainda é melhor investir nisso do que em pagamento das dívidas interna e externa.

Espero que estes variados exemplos tenham contribuído para a compreensão de meu argumento fundamental, isto é, que o Estado, seja qual for sua forma, encontra-se profundamente enraizado na sociedade em que se origina, favorecendo, apesar das eventuais disputas e contradições, as classes sociais dominantes. Espero, também, que o caso brasileiro tenha sido suficientemente bem explicado para que não restem dúvidas acerca do caráter falacioso das proposições liberais, de fundo jusnaturalista, de que o Estado tende a entravar o desenvolvimento do capitalismo. Ao contrário, arrisco-me a dizer que se não fosse pela ação estatal, o capitalismo brasileiro poderia ainda ocupar posição bem mais subordinada do que a que atualmente lhe cabe no âmbito do sistema econômico mundial.

Reconhecer a vinculação do Estado a determinados interesses sociais não implica, no entanto, em negar a metamorfose de suas funções específicas nas últimas décadas. Se o Estado abandonou boa parte de suas posições como produtor econômico direto encastelando-se, por exemplo, em agências reguladoras, cabe-nos estudar essas transformações, buscando, sempre, identificar que interesses são beneficiados e através de quais mecanismos, sem cairmos na mistificação ideológica liberal que tenta pintar o Estado como ente alheio às disputas sociais e despegado de interesses e grupos específicos.

Por fim, considero importante perceber que a crítica teórica da separação de Estado e sociedade civil traz conseqüências importantes também no plano da ação política. Estando enraizado na sociedade que o circunda, o Estado não pode ser, isoladamente, a ferramenta absolutamente emancipadora que alguns setores da esquerda nacionalista desejariam. Por outro lado, dificilmente seria razoável para qualquer projeto de transformação social abdicar de tamanho poder de intervenção social concentrado, conforme apregoa certa esquerda pós-moderna. A transformação de qualquer situação histórica concreta passa, então, pela utilização tática – e não estratégica – do aparato estatal como elemento intensificador de certas contradições inerentes ao desenvolvimento capitalista e, simultaneamente, como instrumento de abrandamento da exploração a que está submetida a classe produtora. Mas passa, igualmente, pela ação articulada por fora do Estado, capaz de criar instituições e práticas que superem verdadeiramente aquelas vinculadas ao capitalismo, como o próprio Estado.
Marco M. Pestana

sábado, 12 de abril de 2008

Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima!

O Carnaval de 2008 teve como data o dia 5 de Fevereiro. De acordo com a tradição brasileira, pelo menos os cinco dias anteriores tiveram suas atividades suspensas para que a folia reinasse -- o que significa dizer que, desde o último dia de Janeiro, o país se encontrava imerso num mar de confetes e serpentinas. Aliás, já nos finais de semana do mesmo mês, os blocos invadiram as ruas da Cidade Maravilhosa, anunciando a chegada do feriadão mais festejado do Brasil. Nesse cenário, a entrega simbólica da chave da cidade para o Rei Momo, que marca o início dos festejos com os desfiles das escolas de samba e dos mais de 80 blocos oficiais, não passou de mera formalidade. Com a cidade lotada (de cariocas e turistas) não houve batucada que ficasse vazia.
Devemos ter em mente, entretanto, que o Carnaval de rua do Rio de Janeiro não foi sempre assim. Durante a década de 1980 e 1990 o maior -- e praticamente único -- evento da cidade era o desfile das escolas de samba na Marquês de Sapucaí, o qual deixava a maior parte da população marginalizada, como conseqüência dos preços aviltantes. Por outro lado, não havia a quantidade de blocos de rua que podemos verificar hoje. Atualmente, o desfile das grandes escolas encontra-se na mesma situação, ou seja, permanece inacessível para aqueles que não têm maiores recursos. Contudo uma análise sócio-econômica mais aprofundada do carnaval é tema para outro texto. Basta apenas considerarmos que, com a difusão do carnaval independente (ou seja, fora da Sapucaí), as pessoas têm mais opções para se divertir, numa espécie de contra-cultura carnavalesca.
Sem maiores pretensões, o que proponho a fazer é um breve exame da revitalização do carnaval de rua no Rio de Janeiro e, conseqüentemente, da volta da cultura carnavalesca fora da Sapucaí. Para tanto, além de utilizar algumas informações disponíveis na internet (tais como número de blocos e precisão de datas, por exemplo), conto com as observações de uma foliona que, recentemente, aprendeu que o melhor lugar para pular o carnaval é no Rio.
Oriundo do popular Entrudo lusitano -- característico do período colonial --, passando pelas promenades burguesas de influência francesa no pós-independência, é somente no final do século XIX e começo do XX que o carnaval de rua carioca passa a englobar a “civilidade” burguesa e a ludicidade popular, na forma de blocos, ranchos e cordões. Na década de 1930, com Vargas na presidência, tentou-se forjar uma identidade nacional, a qual teve sua maior expressão no casamento entre o samba – anteriormente marginalizado -- e o carnaval. Formou-se, então, um espaço de contato entre as diferentes classes sociais. Era o início de uma simbiose que faria do carnaval brasileiro o mais famoso do mundo.
Em meados do século XX, sobretudo na década de 1960, o carnaval carioca atingiu seu ápice. Foi a partir de então que, pouco a pouco, a produção e organização das escolas de samba e dos blocos mais famosos passaram para o comando da classe detentora dos devidos meios e recursos. Percebeu-se que o carnaval oferecia uma enorme capacidade de gerar dinheiro e logo, logo, a festa de caráter mais democrático foi engolida pela indústria da cultura. A primeira providência foi transferir, no ano de 1985, o desfile das escolas de samba -- outrora realizado gratuitamente na Praça Onze -- para a Sapucaí, onde o evento passou a ser pago, como ressaltamos anteriormente. Em seguida, vieram medidas que visavam a padronização do desfile; um limite de tempo foi estabelecido, determinadas alas tornaram-se obrigatórias, o número de integrantes passou a ser regulado e até o samba passou a ser feito com um tema pré-estabelecido! Enfim, perdia-se a espontaneidade de tempos idos. Todo esse investimento valeu a pena, já que o desfile das grandes escolas de samba cariocas tornou-se um produto altamente rentável -- para as emissoras de T.V, para as empresas que passaram a explorar o setor de serviços do novo espaço, para as agências de turismo, entre tantas outras formas de inserção no crescente mercado --, que era vendido nacional e internacionalmente. Nesse contexto, com as atenções voltadas para o Grande Carnaval -- repleto de famosos e turistas --, não é difícil imaginar que o carnaval de rua, aquele de gente comum, onde bastava ter disposição para se divertir e samba no pé, foi definhado até quase cair no esquecimento.
Não é meu objetivo, entretanto, apontar a absorção do carnaval pela Indústria Cultural como único fator explicativo para a decadência dos blocos de rua. Também não tenho a intenção de promover um saudosismo melancólico baseado em um tipo ideal weberiano de folia. Portanto, levantarei, em seguida, alguns pontos que parecem cruciais para desenvolver a trajetória do carnaval no Rio de Janeiro. No artigo “A revitalização do carnaval de rua no Rio de Janeiro”, Márcio Marques, um museólogo formado pela UNIRIO, aponta algumas questões que podem nos fornecer reflexões deveras interessantes para o tema. Vejamos.
Além de atentar para o fato de que as escolas de samba foram cooptadas pelos interesses da indústria cultural, o autor também nos mostra que a entrada de novos ritmos em cena foi um fator que contribuiu para que o samba fosse deixado de lado. A penetração da Black Music, durante os anos 1980, tanto na Zona Sul, quanto nas áreas mais pobres da cidade é um exemplo. Havia pouco espaço para o samba nas grandes gravadoras. Nesse ponto, arrisco-me a ir mais além do que Márcio Marques. Explico-me: durante a década de 1990, foi a vez do Axé Music invadir o mercado fonográfico brasileiro, fato que rendeu ao carnaval baiano -- local de origem de tal gênero musical -- o título de melhor carnaval do país, com seus inúmeros trios-elétricos (bem diferentes daquele que Caetano cantou em 1968: “atrás do trio-elétrico só não vai quem já morreu...”), nos quais o cantor e/ou grupo da moda comandavam os blocos de abadá (que, ainda na época de Caetano, tinham outro significado). Foi então que a Bahia tornou-se o destino predileto das pessoas que dispunham de maiores recursos para brincar o carnaval, o que deixava a cidade esvaziada durante o período. Já no final da mesma década, o funk esteve em ascensão no Rio de Janeiro e nos poucos lugares em que se mantiveram as comemorações de rua, o ritmo monopolizou a audiência. É claro que não se deve generalizar essas reflexões; os tradicionais blocos de enredo (como o Bafo da Onça e o Cacique de Ramos, por exemplo) mantiveram-se firme no que diz respeito ao samba e ao caráter lúdico do carnaval.
Márcio Marques também não nos deixa esquecer os fatores políticos, como a Ditadura Militar, que, além de provocar um clima de obscurantismo social, via com maus olhos as aglomerações de jovens e populares. A construção da Ponte Rio-Niterói (obra da mesma Ditadura) também contribuiu bastante para o esvaziamento da cidade, pois facilitou o acesso à Região dos Lagos.
É somente por volta do começo do século XXI que o carnaval baiano começa a perder sua hegemonia. Surgem outros destinos, tais como Ouro Preto e Olinda, que oferecem diversão sem os preços inflacionados dos abadás. Entretanto, rapidamente esses destinos alternativos -- sobretudo Ouro Preto -- adotaram o mesmo sistema de blocos com cordão de isolamento e abadás, tão característicos da Bahia. É então que o Rio de Janeiro volta a ser a menina dos olhos dos foliões cariocas. Cada vez mais pessoas passaram a permanecer da cidade -- seja pela quantidade de blocos, que também aumentou, seja pela redução no nível de vida da classe média, que passou a economizar com as viagens, seja por outros motivos. Os blocos se espalharam pela Zona Norte, Zona Oeste e, principalmente, pelo Centro e Zona Sul da cidade. Blocos que resgataram os sambas antigos, as animadas marchinhas, as fantasias (que devolveram o colorido e a diversidade que os abadás nos fizeram esquecer), as batalhas de confete... São blocos democráticos, onde todos (ricos e pobres, feios e belos, chatos e bacanas, pretos, brancos e amarelos, etc) podem brincar juntos, sem distinções. É óbvio que não podemos esquecer as mazelas sociais que nos assolam; é duro ver o catador de latinha e os vendedores ambulantes tentando ganhar a vida enquanto os outros se divertem. Isso mostra, inclusive, que mesmo nesse carnaval mais democrático, nossa sociedade não é igualitária. São questões que não podem ser pensadas separadamente, mas que não serão desenvolvidas aqui por pura falta de espaço. Por enquanto, é suficiente lembrar que, enquanto houver hierarquia social não pode haver carnaval para todos. Viva a revolução carnavalesca!
Juliana Lessa

sexta-feira, 21 de março de 2008

A JUVENTUDE NA TELA

A complexidade das relações entre arte e realidade social jamais deixou se ser ponto de atenção e discussão para os estudiosos mais atentos das manifestações culturais em diversos tempos e espaços. Questões como a influência – ou a determinação – do contexto sobre a obra, intencionalidade ou não do discurso veiculado, o diálogo com a produção artística precedente, entre muitas outras, foram, e são, tema de acalorados debates acadêmicos e políticos. Pessoalmente, me alinho àqueles que crêem não apenas ser impossível a compreensão de qualquer obra de arte ou forma de expressão cultural fora de sua conexão com o mundo no qual é gerada, como também que todo tipo de discurso (cinematográfico, literário, teatral, etc) traz consigo – implícita ou explicitamente, consciente ou inconscientemente – uma visão de mundo, ou seja, concepções acerca da maneira como a sociedade efetivamente se estrutura e funciona.
É, portanto, com base nesses dois pressupostos acima explicitados que pretendo aqui analisar dois filmes que estiveram em cartaz nos cinemas do Rio de Janeiro entre maio de 2007 e fevereiro de 2008, em busca da compreensão dos olhares que seus respectivos diretores lançam sobre um tema em comum, a juventude, os quais exemplificam, creio eu, as duas macro-visões atualmente dominantes em relação ao tema em questão.
O primeiro filme a ser abordado é Juno, produção de 2007, que estreou por aqui em 22 de fevereiro de 2008. Típico filme indie estadunidense – musiquinhas bacanas (incluindo uma brasileira), história centrada numa personagem desajustada, uso de animação na abertura –, em Juno, Jason Reitman, seu diretor, nos conta a história de uma jovem de 16 anos, a Juno do título, que tem uma gravidez indesejada.
É na resolução do que fazer com o inesperado bebê que transparece uma Juno extremamente madura e confiante em suas escolhas, a qual contrasta fortemente com os demais jovens apresentados pelo filme: a abobalhado Paulie Bleeker, o pai da criança, e Leah, a amiga patricinha de Juno. Após um rápido flerte com a idéia de abortar, a personagem principal acaba se decidindo por dar o bebê para adoção, sem, ao menos, consultar seu pai, sua madrasta e, mesmo, Paulie. Efetivamente, Juno não dialoga propriamente com as pessoas próximas de si, apenas comunica-as de suas decisões.
Impressionando pela facilidade com que faz suas escolhas e suporta suas conseqüências; em suma, pela posição “adulta” que tem durante quase todo o tempo, Juno exemplifica, portanto, aquilo que acredito ser a primeira das duas chaves de interpretação da juventude já referidas, aquela que enxerga apenas algumas personagens excepcionais num grande oceano de mediocridade.
A segunda dessas chaves interpretativas a que me refiro pode muito bem ser exemplificada pelo filme Alpha Dog, dirigido por Nicky Cassavetes, que chegou ao Brasil em 18 de maio de 2007. Neste caso, a trama também se desenvolve em torno do processo de resolução de uma complicada questão. Um grupo de traficantes de drogas oriundos das classes média e alta nos seus 20 e poucos anos acaba por seqüestrar o irmão de um de seus clientes, com eles em débito. Com a polícia e o tal devedor em seu encalço, o grupo deve optar entre devolver o garoto e correr o risco de ser por ele reconhecido posteriormente, ou simplesmente matá-lo.
Durante o desenrolar dos acontecimentos, no entanto, tomamos contato com o estilo de vida desses jovens seqüestradores. Trata-se de uma contínua festa, regada a bebidas e drogas, sem nenhuma conexão com o mundo exterior ao do grupo, onde abundam a inconseqüência e o hedonismo, os quais só são postos de lado com a perspectiva de cometer um assassinato. Ao contrário do que ocorre em Juno, os jovens representados apresentam dúvidas, tanto interiores, quanto em suas conversas uns com os outros, as quais produzem choques entre eles.
Ainda que o filme supere, como tentei demonstrar, alguma das críticas que erigi a Juno, ao retratar jovens em relação uns com os outros – ainda que, muitas vezes, de maneira bastante conturbada – e em conflito com suas escolhas, peca pelo extremo oposto ao evidenciar uma recusa a se adentrar o mundo “adulto” e assumir as responsabilidades dele advindas. No fim, a opção por se matar o garoto seqüestrado dá o último retoque no quadro da juventude perdida, em que nem mesmo alguns se destacam.
A razão da escolha desses dois filmes para a análise aqui elaborada deve, a esta altura, já estar bastante evidente. Com efeito, creio que ambas as vertentes examinadas acabam por veicular um olhar extremamente pessimista sobre a juventude do início do século XXI, a qual deve ser combatida (lembremo-nos que não faz tanto tempo assim a juventude era tida como a portadora das soluções para os males sociais, como bem exemplificam os anos 60 do século passado). Mais concretamente, acredito que essas duas abordagens negligenciam dois aspectos centrais na vivência do período da vida a que me refiro: perde-se, de um lado, a idéia de transição entre duas fases (a infância e a idade adulta); e, de outro, a idéia de ação coletiva/troca envolvendo sujeitos distintos entre si com fins de crescimento individual e coletivo.
Com o primeiro desses dois pontos o que quero dizer é que se a adolescência e o início da etapa adulta da vida foram vistas como mera transição – com grandes prejuízos para a compreensão delas mesmas em suas especificidades –, o simples apagamento desse doloroso processo não torna seu entendimento mais acurado, apenas opta por optar pelo alargamento de qualquer das fases nos extremos do caminho: ou somos adultos em miniatura, ou crianças que se recusam a crescer. Com o segundo dos pontos elencados acima, me reporto ao impacto benéfico que o contato com múltiplas pessoas e suas respectivas escolhas de vida pode ter numa fase em que, em certa medida, ainda estamos tateando em busca de nós mesmos, mas somos obrigados a fazer uma série de escolhas. Ora, se nos fechamos em nós mesmos ou optamos por coletivamente reagir de maneira unicamente negativa ao mundo que nos cerca, não aproveitamos as experiências únicas que a juventude nos proporciona.
Por fim, cabe mencionar que se tentei, de alguma maneira, esboçar um panorama das visões acerca da juventude atualmente mais difundidas, bem como algumas críticas a elas, não me refiro à juventude como algo natural, com alguma ligação ao nosso desenvolvimento biológico. E, num país como o Brasil, no qual muitos não tem condições, tanto materiais, quanto afetivas, nem de serem crianças, falar da juventude como algo abstrato pairando nos caminhos de nós todos não seria mais do que uma brincadeira de mau gosto. Deixo, portanto, claro, que entendo a juventude nos termos em que me referi como um construto social, próprio das classes médias e altas da sociedade, como a própria análise das personagens dos filmes em questão deve evidenciar.

Marco M. Pestana

sexta-feira, 14 de março de 2008

Solidão hospitalizada

Estudando em um hospital universitário, público, acaba- se vendo e ouvindo muitas histórias, tristes e alegres. Algumas sempre chamam a atenção, seja porque simplesmente inusitadas ou deprimentes ou engraçadas. Entretanto, as que realmente mexem com cada um são as que trazem à tona nossos próprios medos, lembram- nos de nossas experiências ou simplesmente, por motivos muitas vezes desconhecidos, fazem com que nos imaginemos do outro lado, doentes e sofrendo, pois, por mais que não queiramos ser, somos iguaizinhos aos pacientes.
Especialmente no HU, onde estudo, há muitos doentes muito graves, terminais, sendo a morte um fato constante no cotidiano. A vida passa a ser uma questão de sobrevida, ou seja, de adiamento da morte. O cuidado é sempre máximo (ou devia ser) para que o prolongamento da vida não seja um prolongamento do sofrimento, do desgaste. Muitos acham que objetivo da medicina deve ser salvar vidas, prolongá-la ao máximo, defendê-la. Outros, acham que não, que o verdadeiro objetivo é aliviar o sofrimento, promover o bem-estar, proporcionar vida sim, mas com um mínimo de qualidade, para que cada um a desfrute à sua maneira. Talvez realmente haja vida que não valha a pena ser vivida, talvez por nem ser vida direito.
Voltando à questão de sobrevida, gostaria de esmiuçá-la um pouco mais. Quando nos defrontamos com a mortalidade do ser humano, com a nossa própria, percebemos que a definição de cura e principalmente a sensação de “perigo eliminado”, de trabalho terminado é muito enganosa. O mundo é muito dinâmico, a saúde não é diferente. Cem por cento dos pacientes morrem, no final das contas. O que se faz é prolongar. Acaba- se com o câncer, morre- se do coração. Faz- se pontes de safena, salva- se o coração, morre -se de infecção. Salva- se o cérebro, na semana seguinte morre- se com um tiro, com um cofre na cabeça ou o que for. Num episódio de câncer de uma pessoa conhecida, próxima, lembrei-me de uma frase de Drauzio Varella, que dizia mais ou menos o seguinte: já vi muitos pacientes cujo prognóstico sombrio foi dado pelos médicos de pouco tempo de vida, alguns anos no máximo, que acabaram por enterrar seus cônjuges e até mesmo seus médicos.
Outra questão que me deixou muito reflexivo foi a questão do abandono, da solidão, o que aparece muito no hospital. As pessoas ficam mais velhas, perdem os pais, entes próximos, ficam doentes e acabam largados em leitos de hospital, abandonados. Não sei se é uma questão só minha, mas o elemento mais deprimente de internados no hospital é quando eles não têm nenhum visitante, acompanhante, ninguém aparece para vê-los. A tristeza de ver uma pessoa muito mal ou mesmo no fim da vida, só, combina-se à tristeza da própria pessoa. A diferença é nítida entre pacientes que têm acompanhantes e os que não têm. Não sei, será que fica uma impressão de que já passou a sua vida inteira e não “marcou” ninguém o suficiente para que gostasse dele e viesse vê- lo nesse momento, fazer um pouquinho de companhia? É claro que há exceções, casos em que, realmente, praticamente TODOS os conhecidos já faleceram.
Recentemente, acompanhei por mais de um mês um paciente internado, parkinsoniano que havia fraturado o fêmur, que já estava internado há mais de um mês quando comecei a acompanhá-lo. Teve duas infecções durante a internação, estava desnutrido e já há algum tempo não conseguia mais deambular e mal conseguia mexer as pernas. Antes de ser internado, já quase não saía de casa e estava com muita dificuldade de realizar atividades cotidianas como cozinhar, limpar a casa e até mesmo comer (a rigidez e o tremor atrapalhavam-no muito). Além de examiná-lo, conversava com ele e descobri que era um fanático por futebol, como eu, que era vascaíno, mas que achava que o Fluminense tinha um ótimo time. Simpatizei muito com ele. Entretanto, já começava a apresentar déficits cognitivos, da memória e às vezes alucinava. Ele tinha família, uma filha, três irmãs, sobrinha. Sua esposa tinha falecido há pouco mais de 5 anos. Vi somente uma vez um membro da sua família, sua sobrinha que veio saber de seu tio, que já estava de alta. Conversei com ela, junto com os médicos residentes da enfermaria de Neurologia, todos já meio chateados com a família desse paciente, que não o levava embora e o fazia ocupar o leito que teria muito mais serventia para outro paciente. Outra coisa, inclusive dita à sobrinha, foi que se o paciente ficasse internado mais tempo, ele iria infectar novamente e iria falecer. Seria só uma questão de tempo. Infecção hospitalar é algo muito sério. Afinal de contas também, hospital não é asilo. Todo o descontentamento com a família foi se desfazendo e sobreveio um sentimento de culpa pela incompreensão da situação de muitas famílias de brasileiros. A sobrinha depois de nos explicar sua situação, chorando, foi conversar com o serviço social. Explicou que não tinha condições de cuidar dele, uma vez que morava com a mãe e ambas trabalhavam o dia inteiro, ganhando cerca de 2 salários mínimos, sendo que ela tinha uma filha pequena para cuidar. Queriam auxílio, declarações para dar entrada de pensão no INSS, para com ela pagar alguém para cuidar dele. Explicaram que esse processo do INSS demora bastante, que não seria bom que ele ficasse internado tanto tempo (não seria bom no sentido de que provavelmente ele morreria). Isso foi há 20 dias, desde então, não houve grandes mudanças na situação. Quanto às outras duas irmãs, uma era aleijada e a outra também tinha Parkinson, sendo cuidada pelo marido. Quanto à filha, ninguém sabia. Nunca teve um bom relacionamento com o pai, parece. Como eu queria que na verdade a família fosse um bando de canalhas megeros... Poderia usar essa situação aqui pra falar da necessidade de boas casas de assistência e asilos estatais, públicos e gratuitos, mas não quero me prolongar muito. A questão é, ele pode não morrer em breve. Todavia, o mais triste dessa história toda é que, semestre passado, vi um caso de abandono semelhante, um andar abaixo. Um paciente internado para fazer radio/quimioterapia por um câncer de língua que teve um AVC durante a internação. Ficou cerca de 4 meses de alta, esperando alguém da família ou conhecido vir buscá-lo. Ninguém foi, morreu de infecção.
Termino o texto com uma cena bonita, mostrando que ainda há esperança para a humanidade. Quando esse paciente com Parkinson se recusava a comer, o paciente ao lado convenceu-o e lhe deu café da manhã. Completamente desconhecidos eram até então. Não é só. Esse paciente fraterno teve alta, entrou outro. Entrei na enfermaria outro dia e vi esse novo paciente oferecendo-se para ajudar com a alimentação do parkinsoniano. No mesmo dia, um quarto paciente, que estivera internado na mesma enfermaria, voltara para visitá-lo. Isso é que é solidariedade, mesmo quando acha- se que não há muito a oferecer!
Alexandre

terça-feira, 4 de março de 2008

"Voto Consciente"

Nas últimas eleições municipais, em 2004, eu fui às urnas pela primeira vez. Ainda lembro da sensação de cumprir um dever cívico. Durante anos, eu discuti sobre política, falei do que sabia e do que não sabia, profetizei sobre o país, defendi meu partido e critiquei meus colegas comunistas. Finalmente, tinha a chance de votar. Não me interessava se naquele domingo outras tantas pessoas fariam o mesmo. Nem pensei sobre o fato de minha ação ter, numericamente, uma importância reduzida. Eu ia mudar o mundo!
No período de campanha eleitoral eu estudei muito. A eleição se tornou minha matéria predileta. A Matemática dos votos, a História dos candidatos e a Geografia dos partidos ganharam as minhas tardes. Nunca li tantos jornais! Minha mesada tinha que ser dividida entre a merenda do recreio, o cinema dos fins de semana e as minhas fontes principais de informação. Compareci a inúmeros debates e convenções. Um dia fui até o Méier só para poder conversar com um sujeito que pleiteava o cargo de Vereador da minha cidade.
Após este trabalho árduo, me convenci, ou me convenceram, de que o melhor candidato era o José das Couves. Suas idéias eram liberais, ele acreditava nas privatizações e faria de tudo para evitar uma nova onda inflacionária. Além disso, em minha pesquisa, eu descobri que ele era o verdadeiro “paladino da ética”. Em seu período na administração pública, ele fora diretor de diversas empresas e sempre puniu com rigor os corruptos que encontrou. Tinha mais, anos antes esse candidato lançara um livro com diretrizes para o país. Eu votaria em um vereador que tinha um projeto nacional!
Logicamente, por acreditar nas idéias de José das Couves e em seu partido, eu me “alistei” para a batalha. Munido de panfletos e bandeiras, saí pelas ruas do Rio disposto a convencer o povo a apoiar meu candidato. No entanto, em uma dessas conversas (que tinham esse nome só porque catequese é muito feio) eu me irritei com o Seu Jair, meu porteiro. A situação foi rápida, eu quis evitar um bate-boca. Chegando em casa, eu perguntei se ele já tinha um candidato para vereador. A resposta veio na lata: “Claro! Vou votar no Ricardinho da Mangueira.”. Impressionado com a convicção política do homem que passava o dia inteiro abrindo portas, que, por ser semi-analfabeto, não lia jornais e que, ao invés de ver o noticiário na TV, ao chegar em casa preferia dormir cedo, eu perguntei o que o levava a votar no tal do Ricardinho. Foi aí que me irritei: “Pô garoto, o Ricardinho é gente boa! Prometeu até um emprego pra minha mulher.”.
Abri a porta do meu apartamento desolado. Eu passara os últimos meses estudando, pesquisando e lutando por um país mais justo. Enquanto isso, meu porteiro nem ligava para as eleições e ia votar em um candidato malandro só por que este prometera um emprego pra mulher dele. Porém, como eu sou um cara equilibrado, eu resolvi pensar mais sobre o assunto. Veja bem, eu sabia muito sobre diversos candidatos. Havia gasto meu tempo e dinheiro pra descobrir qual seria a melhor opção para o Rio, para o Brasil e para o mundo. Eu tinha um voto consciente! O meu porteiro representava o atraso, era o tipo de pessoa que atravancava o progresso brasileiro. Tudo bem, o voto dele poderia ter o mesmo valor quantitativo que o meu, mas, como eu disse, o meu era consciente.
Agora, já no final de 2005, eu resolvi olhar para trás e fazer um balanço geral do panorama político. O José das Couves e o Ricardinho da Mangueira conseguiram se eleger e passaram os últimos doze meses definindo as políticas públicas de nossa cidade. Quer dizer, enquanto o meu candidato formulou 57 propostas de melhorias, tomou a frente na Comissão de Ética da Assembléia e possibilitou a liberação de mais verba para a educação e para a saúde, o Ricardinho conseguiu o emprego prometido para a mulher do meu porteiro e mais uma meia dúzia do seu curral eleitoral. Isso prova que eu estava certo.
Ontem, ao chegar do colégio, fui conversar mais uma vez com o Seu Jair. Falei sobre tudo o que eu tinha pensado, tentei fazer meu papel de educar esse povo e mostrei para ele que o meu voto tinha ajudado a colocar um excelente político no poder e que o dele não serviu de muita coisa para a sociedade. Terminei meu discurso com um imponente, “Seu Jair, é importante que você tenha um voto consciente!” Após pensar durante uns segundos, o Seu Jair respondeu: “É verdade rapaz, mas esse ano o Papai Noel vai visitar meus filhos pela primeira vez.”

Por Daniel Edler

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Visão da redenção ou fragmento do nada

O crepitar da madeira sendo vagarosa, mas inexoravelmente consumida pelas chamas na lareira atravessou o silêncio que se instalara no chalé e retirou-me do estado de letargia no qual mergulhara há alguns instantes. Os cansaços físico, psicológico, espiritual e intelectual se sobrepunham de modo a conformar uma teia que me aprisionava tornando cada movimento e cada reflexão, por mais banais que pudessem ser, esforços dignos de um Hércules.
Desperto de meu transe, afastei-me da lareira onde acabara de despejar uma nova carga de gravetos, caminhei até o velho sofá à frente do fogo e deixei meu corpo desabar pesadamente. Lentamente, os últimos instantes voltavam à minha memória. Seguiram-se os últimos dias, meses, anos e, num piscar de olhos, já me via novamente criança, brincando como se a existência não me impusesse nenhum fardo.
A imagem do caderno coberto de caóticas anotações – em verdade, creio que a quantidade de rabiscos superava a de anotações – arremessou-me de volta à realidade, na qual aterrissei de maneira pouco ou nada sutil. Apanhei o caderno de cima da rústica mesa de madeira colocada entre a lareira e o sofá e, partindo do princípio, reli as notas que dispusera ao longo das páginas naqueles (quantos?) dias de reclusão. Conforme o esperado, a visita à materialização de minha tormenta mental não me trouxe conforto, nem apontou caminhos. Aquelas mal-traçadas linhas, rabiscos, desenhos incompreensíveis compunham, sem a menor dúvida, o mais fiel retrato de meu estado àquela altura. Fotografia nenhuma poderia ser mais exata.
Como ainda me sentisse levemente anestesiado, imaginei que um bocado de café pudesse contribuir para a completa reativação de minhas faculdades. Caminhei até a cozinha, contígua à sala, e servi uma grande caneca daquele precioso elixir negro revitalizante. Enquanto sorvia o café, podia observar através da janela meu carro estacionado no gramado ao lado do chalé. Aquele automóvel era a única coisa que ainda me mantinha conectado ao meu antigo mundo, para o qual não sabia quando retornaria, se é que o faria. Certamente algumas trivialidades, como o fato de meu dinheiro estar terminando, me conduziriam mais cedo do que eu gostaria de volta para a civilização.
O torpor já começava a se dissipar e eu já conseguia escutar o tranqüilo correr do rio atrás da fina parede de madeira da cozinha, quando depositei a caneca no fundo da pia e decidi retornar à sala. No momento em que transpus o portal e alcancei o outro aposento, uma pequena luminosidade do lado de fora do chalé imediatamente capturou minha atenção. Percebi que de modo não-linear o foco de luz se aproximava da porta e passei a caminhar em sua direção. Seria a redentora luz que os poetas – e os otimistas – insistem em ver no fim do mais escuro dos túneis? Ou – meu estado de espírito ainda não se alterara, apesar de estar ligeiramente revigorado fisicamente – o pequeno lampião que ilumina o caminho da Morte – essa misteriosa senhora - em direção àqueles que ela deseja encontrar?
Quando finalmente alcancei a porta, apressei-me a abri-la e pus-me à distância de um beijo da entidade luminosa. Antes que pudesse constatar se tratar de um enxame de vaga-lumes, fui tocado pelos gélidos dedos do frio serrano e, por um instante, hesitei entre retornar para dentro do chalé ou permanecer do lado de fora. Após a breve vacilação, tentei caminhando alcançar os vaga-lumes. A baixa temperatura e a relativa inatividade física, travando cada músculo de meu corpo, me impediram de acompanhá-los por mais do que alguns segundos e pus-me a observá-los em seu despretensioso vôo. Bailavam no ar sem se importar comigo ou com qualquer outra coisa à sua volta. Faziam apenas o que a natureza esperava que eles fizessem. Perguntei-me, então, o que a natureza esperava que eu fizesse.
Atingida por um inesperado golpe de vento, a porta, poucos metros atrás de mim, bateu violentamente.
Marco M. Pestana

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

O pipoqueiro na guilhotina

Conceitos moribundos rondam nossas conversas. Suas vidas úteis já acabaram, mas continuam suas frágeis existências, pois a maior parte das pessoas não compreendem que estão obsoletos. Pobres velhinhos que não vêem a hora de descansar em paz, porém, são importunados por intelectuais saudosistas, carentes da época em que esses termos ainda possuíam um significado compreensível.
Os conceitos políticos são os mais violentados. Não é possível que, passados mais de duzentos anos da revolução francesa, ainda se usem termos empregados para classificar grupos políticos a partir do lugar em que se sentavam nas assembléias. Ou então, que se insista em utilizar expressões que faziam sentido na Europa de Marx, mas nada dizem em um mundo globalizado e cada vez mais dinâmico.
Como falar em burguesia, por exemplo? Ora, se um indivíduo é dono de sua carrocinha de pipoca, é um burguês. Já o especulador da bolsa, apesar de ter uma influência muito maior na penúria de sociedades a léguas de distância de Wall Street, ganha milhões sem possuir meio de produção algum e, por isso, não é burguês. Opiniões políticas à parte, não acredito que Marx incitaria os proletários a lutar contra o pipoqueiro.
Outro exemplo, o qual já mencionei de passagem, é a definição de esquerda e direita. Esses conceitos acabaram por, com o tempo, adquirir dois valores diferentes, que na época fazia sentido andarem juntos. Diz-se de esquerda a pessoa cuja diretriz política é mais voltada para o aspecto social e/ou faz oposição ao poder vigente. Isso, porque os jacobinos, além de opositores do primeiro governo da revolução, eram os maiores defensores das mudanças de cunho social. Conseqüentemente, de direita seria a pessoa com interesses numa política mais preocupada com a economia e que está vinculada ao governo do momento. Esse emprego se dá graças ao posicionamento dos girondinos. Duvido que Fidel Castro se identifique com Robespierre.
Com o tempo, os conceitos se tornam dúbios e precisam ser repensados. Senão, corremos o risco de tentar maquiá-los, dando uma aparência nova a uma expressão que, mesmo parcialmente remodelada, já se encontra vazia de sentido. Como aceitar termos como socialismo de mercado? Os países que adotam este sistema pessimamente batizado podem até não gostar de serem associados aos capitalistas, mas comunistas não são. Se a China recusa a idéia de democracia por considerá-la uma invenção ocidental, deveria ser coerente e inventar um novo nome para o modelo político que estão criando. A não ser que o termo socialismo tenha sido expropriado pela revolução e se tornado oriental da noite para o dia.
Ao se utilizar conceitos antigos, existe a garantia da adesão à idéia das pessoas já familiarizadas com certas palavras. Ninguém quer correr o risco de perder adeptos tão fiéis. Renomear o que está a nossa volta, quando envolve ideologia, requer uma minuciosa explicação àqueles que se sentem órfãos de nomenclaturas.
O mundo muda, as políticas mudam. Não faz sentido que os mesmos nomes signifiquem situações tão diferentes. Precisamos nos desapegar dos conceitos caducos. Ou então, guilhotinar o pipoqueiro.

Gabriela Roméro

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

O continente do futuro (ainda no passado)

O olhar de um universitário latino-americano acerca da região em que vive e constrói sua identidade pode, e é provável que seja, amplamente distorcido. Inserido nas complexas relações sociais de interação/identificação existentes, deixamos aflorar nossas crenças e ideologias, perdendo o foco sobre as verdadeiras questões que devem ser enfrentadas. Apesar disso, neste texto me proponho a analisar o objeto “América Latina” com um enfoque “de dentro” e “para dentro”, ou seja, os nossos problemas, como estes nos afetam e a nossa culpa pelos mesmos. Acredito que a influência de “outros” em nossas políticas seja também considerável, mas a forma de participação da sociedade civil regional e dos próprios Estados representam os mais sérios entraves para o nosso messiânico progresso.
O último século foi palco de diversas transformações no continente americano. Vivemos períodos de conturbação política, de estabilidade ditatorial e, raras vezes, de continuidade democrática, mas, o principal, encontramos, como resultado de todo este processo, um aprofundamento da dependência da iniciativa estatal. Em análise comparada com os EUA, pode-se perceber que não tivemos nos barões do café brasileiros, nos estancieros argentinos ou nos latifundiários mexicanos, uma iniciativa privada independente das políticas econômicas dos governos vigentes. Enquanto Rockfeller gerava a Standart Oil, Thomas Edison impulsionava a General Electric, tudo o que tínhamos eram “coronéis” políticos e econômicos que pouco investiram em uma infra-estrutura perene. Acredito que esta seja a principal diferença que permitiu aos EUA um rápido desenvolvimento e mergulhou o resto do continente na sina da pobreza[1].
A análise do desenvolvimento histórico desta questão se faz importante por dar luz a diversos acontecimentos atuais. Vemos um processo de industrialização insípido graças a estas amarras ao investimento externo e interno sem controle governamental. Países da Ásia e do Leste Europeu já perceberam o que economistas do mundo inteiro enfatizam a décadas: o nacionalismo econômico, priorizando o mercado interno, causa distorções nas leis de mercado, prejudicando os consumidores e não incentivando os produtores. Esta política de industrialização foi largamente implantada na região, resultando exatamente no que imaginavam os economistas liberais, mercado interno sub-abastecido, inflação, e indústrias pouco competitivas.
Outro fenômeno sui generis, também fruto deste ideal nacionalista e da força do Estado, é o Populismo. Reforçando uma clivagem interna e externa, governos personalistas buscaram alternativas para o desenvolvimento da região, mas, invariavelmente, caíram na retórica vazia, acusando “agentes externos” e “as elites” pela famigerada situação de toda a América Latina. Políticas públicas de cunho assistencialistas, ainda hoje existentes, remetem a estes tempos. O Estado se tornou o centro de toda a economia[2], permitindo a incidência do aparelhamento das empresas estatais por partidos políticos, larga escala de corrupção e, principalmente, a falta de dinamismo nos investimentos.
Atualmente, vivemos a herança deste fenômeno, o “Leviatã” se transformou em “elefante branco”, a pobreza se tornou crônica, cíclica. O problema parece ser mais grave se tivermos em mente as opiniões de Jorge Castañeda, ex Ministro das Relações Exteriores do México. Para ele, temos um retorno destas práticas nacionalistas, com figuras carismáticas e discursos desenvolvimentistas. O ex-ministro traça um eixo neo-populista altamente prejudicial para a região. Sob o comando de Hugo Chávez, diversos movimentos similares estão tomando força: o MAS (Movimento ao Socialismo) elegendo Evo Morales na Bolívia e a Alianza País liderada por Rafael Corrêa no Equador são bons exemplos deste novo rumo. Baseando as políticas públicas na alta temporária do preço das commodities, estes governos reiteram os discursos assistencialistas, aumentando os gastos públicos em programas que não trazem um desenvolvimento econômico, ou, sequer, um aprimoramento da infra-estrutura interna. Outra importante característica deste movimento é a crítica exacerbada à atuação americana no plano internacional. O anti-americanismo de Hugo Chávez pode ser proveitoso para colocá-lo na mídia, mas certamente prejudica a imagem da Venezuela e sua inserção nas relações regionais, diminuindo assim o fluxo de investimento privado para o país.
Acredito, baseado nos preceitos apontados por Castañeda, que os principais problemas da América Latina estão relacionados a uma tradição de dependência de um Estado “bem-feitor” e de políticas paternalistas que, de tempo em tempos, acalmam os movimentos sociais através de gastos públicos irresponsáveis. O pleno desenvolvimento da região acaba sempre sujeito a uma estabilidade democrática, o que, excetuando-se em alguns poucos países, entre eles o Brasil, parece estar longe de tornar-se uma realidade. Governos antidemocráticos e práticas ditas populistas, como demonstra a história, simplesmente não combinam com crescimento sustentável, progresso econômico e melhorias sociais. Enquanto líderes aos moldes de Hugo Chávez “derem as cartas” na política regional, a América Latina continuará inserida no círculo da pobreza e viverá a sina do subdesenvolvimento.

[1] Corroborando esta lógica há o célebre discurso do presidente americano John F. Kennedy – “...não se pergunte o que o seu país pode fazer por você e sim o que você pode fazer pelo seu país.”
[2] No México, por exemplo, mesmo após as reformas liberalizantes, o Estado é responsável por cerca de 40% do PIB.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Apresentação do Blog

Todo mundo já está careca de escutar que com o advento do PC (computador pessoal), da internet e de todas as demais parafernálias eletrônicas que vêm surgindo nas últimas décadas nós entramos na "Era da Informação". Coisa que poucos dizem – ou mesmo se dão conta –, é que, no fundo, a grande maioria das pessoas mantém uma atitude passiva em relação às "informações" em muito semelhante àquela nutrida séculos atrás, quando mais da metade da população mundial sequer era alfabetizada (e, também, quando a própria idéia de população mundial era bastante extravagante). Se, de um lado, a rede mundial de computadores permitiu – e isto é inegável – acesso rápido e fácil – ao menos para aqueles que podem pagá-lo – a toda uma miríade de informações antes confinadas a espaços geográficos bem mais restritos, de outro, mesmo uma rápida consulta às estatísticas nos mostraria o quanto os grandes sites (de jornais, agências de notícias etc) dominam a produção e circulação real de informações no mundo virtual. E o problema, evidentemente, não pára por aí, na medida em que mesmo a recepção do conteúdo desses mesmos sites que poderíamos dizer hegemônicos reveste-se, quase sempre, com o pesado manto do acriticismo.
As ferramentas de difusão de informação/conhecimento proporcionadas pela internet foram, no entanto, logo cedo apropriadas para os mais diversos fins. Dentre tais ferramentas, os blogs há muito se destacaram como janelas a partir das quais o mundo conectado poderia entrar em contato com as idéias de dada pessoa ou grupo. Rapidamente, então, proliferaram blogs travestidos de diários virtuais, cujo interesse dificilmente ultrapassa o(s) seu(s) proprietário(s) e seu círculo social mais próximo. Outros, porém, há tempos foram criados com o fito de debater idéias mais amplas, seja sobre assuntos variados ou com foco delimitado (como, por exemplo, cinema ou música).
O Cotidiano Papagalli busca se inserir nesse segundo grupo. Sendo uma iniciativa de amigos, possui objetivos bastante claros, sendo o principal deles fazer com que nós escrevamos e façamos nossos textos circularem. Por quê? Por duas simples razões: de um lado, pelo prazer, de outro, pela necessidade que reconhecemos de nos aprimorar enquanto escritores/leitores, atividades que entendemos como radicalmente indissociadas. Aqui, retomamos o fio do parágrafo inicial, para afirmar que somente através do exercício da produção de informação/conhecimento podemos nos capacitar para melhor lidar com o que nos é passado por terceiros, sendo a criação ativa fundamental para o processo de conhecimento e interpretação do mundo. Em suma, só tendo idéias e organizando-as (o que, apesar dos computadores, ainda se faz fundamentalmente em textos), podemos compreender de forma acurada a realidade, mas também as idéias dos demais sobre ela.
Nesse sentido, o debate aparece como complemento lógico e necessário da escrita/leitura enquanto produção de informação e construção de conhecimento. Temos, portanto, mais um dos objetivos deste espaço: fomentar o debate em torno de nossos textos e idéias. Por fim, um último objetivo é o de reunir num mesmo espaço pessoas com interesses, visões de mundo e trajetórias distintas, que possam – unidas pelo desejo de produzir e debater idéias – fazer interagir as múltiplas áreas do conhecimento a que se dedicam (Medicina, Arquitetura, História, Economia etc). Não obstante isto, não pretendemos restringir nossos textos a temas e/ou abordagens característicos de nossas respectivas searas.
Por fim, cabe ressaltar, que, se, por um lado, nossos objetivos estão em larga medida definidos, por outro, muito ainda permanece pouco amarrado – e julgamos que assim deva ser. Exemplo disto são os formatos dos textos, tanto no que concerne aos tamanhos, quanto aos gêneros (que devem ser os mais variados: artigos, crônicas, contos, poemas, pequenas dissertações, ensaios, críticas de cinema, arte, teatro etc), a periodicidade dos mesmos e, inclusive, o corpo de colaboradores do blog. São questões para as quais a prática cotidiana possivelmente fornecerá melhores respostas do que elucubrações prévias. Enfim, esperamos que este seja um espaço de debates minimamente interessantes e gabaritados, mas, fundamentalmente, prazeroso.